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Como aprender sobre si mesmo

Leia o artigo do guru indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986), um dos maiores mestres espirituais do século 20.

Por Texto: Jiddu Krishnamurti
Atualizado em 20 dez 2016, 18h25 - Publicado em 16 abr 2014, 17h32
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Por onde quer que se vá, encontram-se seres humanos com mais ou menos os mesmos problemas. Todos anseiam por um pouco de paz, de felicidade. Em um mundo tumultuado por guerras, rivalidade e conflitos, queremos um refúgio. Para o corpo e para a alma. Então, começamos a buscar incessantemente. Passamos de um líder a outro, de uma organização religiosa a outra, de um mestre a outro.

Agora, pergunto: o que realmente desejamos? Estamos procurando felicidade ou algum tipo de satisfação que, esperamos, nos torne felizes? Há uma diferença considerável entre os dois. Porque talvez você possa encontrar satisfação, mas felicidade é  impossível. Felicidade é um derivado, um subproduto de algo mais difícil de nomear. Então, antes de entregarmos a mente e o coração a algo que exija muita seriedade, atenção, pensamento e cuidado, devemos investigar bem para descobrir o que estamos buscando. Receio que muitos de nós estamos procurando satisfação. Queremos encontrar uma sensação de plenitude no final de nossa busca. Não se pode negar que, em toda essa confusão – a maioria das pessoas está vivendo uma vida contraditória, cheia de paradoxos –, nosso desejo comum é chegar a um sentimento permanente, eterno, que possamos chamar de real, Deus, verdade. Algo a que possamos nos agarrar, que nos dará segurança, uma esperança, um entusiasmo duradouro. Enfim, uma certeza, porque em nós mesmos somos muito incertos. Não nos conhecemos. Sabemos muito sobre fatos, pelo que os livros nos dizem, mas não sabemos dessas coisas por nós mesmos. Não temos uma experiência direta. Então, antes de qualquer busca, precisamos compreender aquele que busca. Antes de podermos construir, antes de podermos transformar, condenar ou destruir, precisamos saber o que somos. Sem conhecer a si mesmo e o próprio modo de pensar, sem saber por que você imagina certas coisas, qual a base de alguns condicionamentos e por que tem certas convicções, como pode pensar verdadeiramente sobre alguma coisa?

É sábio começar a aprender sobre nós mesmos. Parece fácil, mas é extremamente difícil e trabalhoso. Exige paciência. Que direção tomar, afinal? Existem divisões, conflitos, uma seita se opondo a outra. O nosso maior problema é tomar uma decisão contínua, íntegra, que não traga mais sofrimento a ninguém. Para seguir a nós mesmos, ver como funciona nosso próprio pensamento, temos de estar alertas. Conforme ficamos mais treinados a perceber a complexidade de nosso modo de pensar, das reações e dos sentimentos, começamos a ter uma consciência mais ampla, não apenas de nós mesmos mas também daqueles com quem nos relacionamos. Apenas quando a mente está tranquila – por meio do autoconhecimento e não da disciplina imposta – é que a realidade acontece, surgindo dessa tranquilidade, desse silêncio. E é só então que pode haver bem-aventurança, que pode haver ação criativa, a experiência de alguma coisa que não é da mente. Por essa via, tende a acontecer uma transformação em nossos relacionamentos imediatos e, assim, no mundo em que vivemos.”

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