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Casa utiliza estrutura de eucalipto e painéis de cobre oxidado

A potência deste projeto paulista, vencedor da categoria Casa de Campo do sétimo prêmio O Melhor da Arquitetura, vem da interação entre esses dois elementos naturais

Por Por Deborah Apsan (visual) e Marianne Wenzel (texto) Projeto de Arquitetura Bernardes Arquitetura Projeto de Interiores CSDA Fotos Victor Affaro
Atualizado em 16 fev 2024, 15h49 - Publicado em 19 nov 2014, 20h10

Na literatura, o cobre azinhavrado costuma aparecer em contextos que sugerem modéstia. O castiçal torto de cobre azinhavrado de Cora Coralina, o vintém azinhavrado de Álvares de Azevedo, a pérola engastada em cobre azinhavrado e vulgar de Machado de Assis. Objetos tão gastos que seu tom avermelhado original foi tomado pelo verde, sinal inequívoco da idade e do uso. Presente em construções desde a Idade Média, esse metal muda mesmo de tonalidade com o tempo. O marrom dá lugar ao preto, e a cor entre o esmeralda e o turquesa demora, pelo menos, 25 anos para aparecer. É a oxidação natural, que em nada prejudica a durabilidade e a resistência do material. Num condomínio no interior de São Paulo, o projeto assinado pelo arquiteto carioca Thiago Bernardes faz uma leitura mais nobre do cobre envelhecido. Aqui, essa aparência foi desejada, intencional, pelo contraste que ofereceria em relação à madeira e por se adequar aos enormes quebra-sóis da sala-varanda – local abençoado pela melhor vista do terreno, mas castigado pela pior insolação. Leves, fortes e bonitas, as chapas se provaram a alternativa perfeita para compor os brises. “Elas também revestem parte do concreto que desenha o bloco dos quartos”, explica Thiago. “Acabou virando um elemento marcante da casa. Não é só estética, porém. O cobre cumpre uma função muito séria”, afirma. Sim, o metal viabilizou a solução para a fachada que integra a residência ao jardim, à paisagem. O diálogo entre duas estruturas – a de concreto, na área íntima, e a de madeira, na social – surge como outro importante personagem desta história. A segunda, trabalho do engenheiro Hélio Olga, apoia-se na primeira por meio de apenas uma viga. Aberta e vazada, ela origina uma grande varanda. Já a outra se mostra mais fechada, contida. “Isso marca a distinção de usos, e você sente isso, percebe as temperaturas, a diferença de pé-direito. Você vive”, fala Thiago. Ele conta ter aprendido com Hélio, parceiro em muitos trabalhos, que a substituição de um ou outro elemento estrutural é esperada: “Sempre haverá uma peça mais exposta para proteger as demais. Os pescadores sabem disso. Eles constroem com pau do mato sabendo que a madeira envelhecerá e trocam conforme a necessidade. É algo vivo”. Vida, longevidade, beleza. Temas tão humanos e presentes neste projeto. Ainda bem.

 

O desafio da curva

O formato do terreno, perto de uma espécie de rotatória, e a insolação exigiram uma implantação engenhosa para aproveitar bem a área, resguardar a casa da rua e obter a luz certa para os quartos

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Área: 910 m²; Construção: All’e Engenharia; Luminotécnica: Lightworks; Paisagismo: Maria João d’Orey

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