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Casa Samambaia: à frente de seu tempo

Para o arquiteto e pesquisador Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial e professor da UERJ, a palavra que define casa Samambaia é radicalidade

Por Por Silvia Gomez | Fotos Leonardo Finotti
Atualizado em 22 nov 2022, 01h04 - Publicado em 17 jul 2013, 19h19

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Como você define a arquitetura de Sergio Bernardes, autor da casa de Lota de Macedo Soares?

Ele pertence à segunda geração de modernistas brasileiros, então já apresenta uma linguagem diferente. Tem um minimalismo que privilegia as retas, gosta do aço. Por outro lado, usa acabamentos orgânicos, como pedra e tijolo aparente. Também era um mestre do detalhe, inventava materiais: concebeu a telha ondulada e os tijolos vazados. Era envolvido não só com a arquitetura, mas com a indústria. Podemos dizer que ele é talvez o melhor arquiteto de residências que o Brasil já teve, uma referência para profissionais importantes do mercado hoje. A casa Samambaia é de sua fase inicial.

Quais dessas características aparecem no projeto da Samambaia e por que ela é um marco do modernismo?

Essa obra é absolutamente radical no sentido de usar uma arquitetura industrial para uma residência. Em geral, Sergio conseguia combinar nas casas esse extremo industrial com materiais orgânicos e o mimetismo com a natureza. Aí reside outro ponto forte: a total integração com a paisagem, que fazia muito sentido naquele lugar. Interessante ainda é a questão espacial da construção. A casa tem uma rampa no meio que a divide em dois blocos: um para os hóspedes e outro para o quarto da própria moradora.

Que soluções podem ser consideradas inovadoras para a época, os anos 50?

Diferentemente de vários arquitetos da escola carioca, Sergio priorizava as linhas retas. Foi a primeira vez que esse tipo de estrutura metálica apareceu na cobertura de uma residência. Com esse telhado de alumínio e sua lógica industrial, a casa parecia extremamente despojada. Ao mesmo tempo, era aconchegante, dialogava com a serra. Tão inovadora que conquistou o prêmio da Bienal de Arquitetura de São Paulo, reconhecida pela radicalidade e pela qualidade plástica. Como um marco inicial, a premiação não só incentivou seu autor como o impulsionou.

Lota era uma arquiteta autodidata e participou ativamente do projeto. Como se dá essa relação de criação?

O entusiasmo de Lota pela casa e a maneira pela qual se dedicou a construí-la foram fundamentais para que tal resultado fosse obtido. Não que não houvesse conflitos – foram vários, ambos tinham personalidades vulcânicas. Mas foi desses casos de parceria que funcionou superbem. Imagine a dificuldade de executar aquela proposta tão aberta na época. Lota, porém, era especial: tem uma contribuição para o urbanismo brasileiro por causa do Aterro do Flamengo, uma intervenção importantíssima. Entendia profundamente de arquitetura e fazia seguir os projetos de modo fiel.

Conheça a primeira casa a usar cobertura metálica no Brasil

Lota em livro, filme e exposição

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1. O livro de Carmen L. Oliveira reconstitui com esmero a relação de Lota e Bishop e ainda revela detalhes da construção da casa. Da editora Rocco, por R$ 41,50.

2. Bruno Barreto dirige o filme baseado no livro de Carmen, com uma ótima Gloria Pires como protagonista. Dia 16 de agosto nos cinemas.

3. A casa Samambaia está entre os 20 projetos registrados para a exposição 10+10, do fotógrafo leonardo Finotti. Até 27 de julho em Bratislava, na Eslováquia.

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