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Bordeaux, na França, é a região dos vinhos e do prazer de viver

A região dos famosos vinhos franceses é pródiga em natureza, tratamentos de spa e savoir-vivre.

Por Texto Liane Alves | Design Didi Cunha | Ilustração Greg
Atualizado em 20 dez 2016, 16h36 - Publicado em 29 jul 2013, 17h34

Que tal tomar um banho de ofurô à base de vinho antecedido por uma massagem esfoliante com mel silvestre, ervas, folhas e sementes de uva? Ou degustar uma das mais refinadas gastronomias do mundo em restaurantes que dão para lagos e flores? Além de passear por castelos e vinhedos ou tomar champanhe diante de um pôr do sol rosado no último andar de um hotel de luxo? Tudo isso é possível numa das mais sofisticadas regiões da França, a Aquitânia, cuja capital é Bordeaux.

 

Vida é boa, mas existem lugares neste planeta onde ela se torna incrivelmente melhor. Um deles, sem dúvida, é a região de Bordeaux, tomada por vinhedos onde se produzem os mais prestigiados vinhos do mundo. Se o lugar era conhecido antes apenas por seus vinhos elegantes e soberbos, agora é também celebrado pelas opções que oferece em torno do prazer de viver. Hoje, além de ser um dos destinos preferidos de homens sofisticados que querem fazer cursos sobre vinhos ou conhecer os châteaux (castelos) onde eles são produzidos, a região tornouse uma das viagens favoritas do público feminino, principalmente pelas opções oferecidas em torno da boa mesa, pelos tratamentos estéticos inovadores e pelas compras sofisticadas a preços menores do que os de Paris (cerca de 20% a menos, dependendo do produto). E, cada vez mais, os cursos sobre vinhos e gastronomia também são frequentados por mulheres: de dez anos para cá, elas desenvolveram o gosto por conhecer mais profundamente esse mundo que tanto encanta os homens. Talvez influência de Eleonor de Aquitânia, nascida na região, e que em plena Idade Média tinha a visão, a cultura e a coragem de um homem de sua época.

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Independente, assertiva e lúcida, Eleonor antecedeu as primeiras mulheres modernas. Casou-se com dois reis (um da França e outro da Inglaterra) e foi também mãe de um grande cavaleiro, Ricardo Coração de Leão. Ainda hoje, as mulheres da Aquitânia (assim como os homens) são reconhecidas por sua forte personalidade e autonomia. É bom lembrar que essas terras fazem fronteira com a Espanha, e que a influência da altiva cultura espanhola por ali não é desprezível.

 

Vinhedos, castelos e surpresas

 

Pode-se dizer que a rica região em torno de Bordeaux (composta de terras da Aquitânia e de Gironde) é um imenso vinhedo de 117 mil hectares. Cada propriedade tem um pequeno castelo (o château) e existem mais de 800 deles nessa área. Ali são produzidos os mais refinados vinhos do mundo, chamados genericamente de vinhos bordeaux: elegantes, nobres, aveludados e encorpados. Os mais célebres são conhecidos por enófilos de todo o planeta: Château Margaux, Lafite-Rothschild, Cheval Blanc, Haut-Brion, Petrus… Essa área considerável é também famosa por sua variedade de solo (terroir), que confere características especiais às uvas, por sua viticultura e pela sofisticada arte da assemblage (mistura de uvas que compõe um vinho). As diversas sub-regiões locais batizam alguns tipos de vinhos bem conhecidos: Sauternes, Médoc, Graves, Pomerol, Entre-Deux- Mers, Blaye e Bourg. A maioria dos châteaux aceita visitas, que custam de 7 a 10 euros por pessoa. É uma delícia alugar um carro e ficar rodando vagarosamente pelas estradinhas e provando vinhos onde são produzidos. Outra alternativa é fazer parte de pequenos grupos que percorrem os chatêaus de van (esse tour pode ser agendado no site https://www.bordeaux-tourisme.com).

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Mas, para quem quiser provar a experiência de fazer pessoalmente uma assemblage, estender a toalha para um piquenique nos jardins de um castelo ou comer a comida farta e deliciosa dos agricultores dos vinhedos, o ideal é não deixar de visitar o Château Siaurac, perto da pequena cidade medieval de Saint-Émilion. Exprofessora, a proprietária, Aline Guichard-Goldschmidt, a simpatica herdeira da baronne (baronesa) de Guichard, e seu marido, Jean-Paul, preparam sua propriedade de 46 hectares de vinhas e 15 de jardins especialmente para receber turistas de maneira que eles provem o estilo de vida da região. Ali se pode aprender numa aula interativa como fazer a mistura de uvas (assemblage) de seu próprio vinho e comprar uma caixa de piquenique (80 euros, para duas pessoas) para saboreá-la num jardim de carvalhos e flores. Também dá para almoçar a comida farta e saborosa dos agricultores locais na antiga orangerie (estufa) da propriedade, ou, ainda, marcar um jantar à luz de velas para ser recebido à noite no château. É só escolher. Ao lado do Château Siaurac está Saint-Émilion, um delicado vilarejo da Idade Média totalmente preservado em meio aos vinhedos da Aquitânia e considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Toda a cidade está repleta de lojas e cursos dedicados ao vinho (há, inclusive, um especial para brasileiros). Uma das delícias do lugar é almoçar no charmoso L’Envers du Décor, com uma área ao ar livre, e passar na lojinha Véritables Macarons de St-Émilion para comer, como sobremesa, esse doce à base de amêndoas que se desfaz na boca.

 

A visita à vila medieval se completa com a descida à impressionante igreja subterrânea da cidade, escavada dentro da rocha e dedicada aos anjos e ao ermitão Émilion, santo medieval a quem se atribui muitos milagres. Perto da gruta onde ele viveu, ainda está o banquinho em que Eleonor de Aquitânia se sentou há mais de 800 anos para ter a possibilidade de engravidar (o dom da fertilidade é um dos milagres atribuídos ao ermitão, e até hoje mulheres que desejam ter filhos se sentam por alguns segundos no banco).

Imponente e majestosa pelas proporções, a igreja convida a um momento místico profundo e ao recolhimento, parecendo ignorar o mundo profano que gira lá for Para quem gosta de castelos, há um muito antigo decorado pelo arquiteto francês Viollet-le-Duc, que recuperou a Catedral de Notre- Dame, em Paris, no século passado. Quem recebe e guia a visita do Château de Roquetaillade é a herdeira da família, a sra. Mauvezin, que abre as portas com chaves enormes, contando histórias ao mostrar ambientes como os dos contos de fadas.

 

Capital faiscante

Bordeaux, a capital da Aquitânia, é uma pequena joia da arquitetura do século 17 e é considerada Patrimônio Mundial pela Unesco desde 2007. O convívio entre a arte ultramoderna e a antiga é o próprio símbolo da cidade: a Place de la Bourse, onde construções de 300 anos rodeiam um moderno espaço livre do qual saem nuvens de vapor do chão de tempos em tempos numa autêntica praça “líquida”. Passear por ali é uma delícia durante o verão, pois é possível se refrescar do intenso calor com nuvens de água. Alain Juppé é o prefeito. Ele remodelou várias construções antigas e as transformou em arrojados centros de cultura e museus. Dinheiro na região não falta – os vinhos trazem recursos para a cidade e a transformam num polo de cultura natural. Delicioso é tomar um café ou um lanche no último andar do Museu de Arte Contemporânea (CAPC) ou passear pelas galeras e lojas da Rue du Faubourg des Arts, consagrada a artistas, artesãos, antiquários e colecionadores. Uma pausa no cais da cidade, que margeia o Rio Garonne, é bem-vinda. Pode-se encontrar uma feira típica com produtos locais, como incríveis patês, queijos e embutidos, cafés e restaurantes e, ainda, pelo menos 1 quilômetro e meio de outlets com roupas e sapatos a bom preço (o Quais des Marques).

 

Os hotéis-butique de Bordeaux também refletem essa integração entre o antigo e o atual. No charmoso Hotel Maison Fredon, por exemplo, é possível encontrar obras de arte assinadas por grandes nomes contemporâneos em ambientes ousados e, ao mesmo tempo, acolhedores. Ou no Hotel Particulier, do século 19, que tem uma suíte em sofisticados tons de cinza e rosa com uma banheira no meio do quarto. Comparando com Paris, os preços são mais acessíveis. A gastronomia também é outra joia de Bordeaux. O restaurante do Grande Hotel, o Pressoir d’Argent, por exemplo, tem uma cozinha criativa assinada pelo chef Pascale Nibaudeau (com uma estrela no guia Michelin) Uma boa ideia é tomar um  hampanhe no bar do último andar do hotel, o Night Beach, muito frequentado, e ver a faiscante Bordeaux a seus pés na hora do crepúsculo, ou fazer tratamentos em seu spa, que usa a sofisticadíssima linha de produtos La Perla. É indispensável uma visita à Rue Gourmande (Rue Porte de la Monnaie), totalmente gastronômica, onde se destacam vários restaurantes,

alguns frequentados por presidentes, como o rústico La Tupiña, com uma das melhores cozinhas tradicionais da França e considerado um dos melhores do mundo por publicações da área. O Café Tupiña é indicado para refeições mais leves e lanches, e o Kuzina, especializado em peixes e na cozinha de Creta. Há mais ainda para ver em Bordeaux e suas regiões vizinhas.

 

Os ambientes muito procurados na cidade são os de escolas e cursos de vinhos, como a L’École du Vin de Bordeaux, encontros para degustação, como o Bar à Vin, e lojas de vinhos superespecializadas, como a Millésima. E, a uma hora de Bordeaux, estão as dunas de Arcachon, para provar maravilhosas ostras, e as deslumbrantes casas de Cap-Ferret, no litoral, por exemplo. Mas é sempre bom deixar alguma coisa para sua próxima visita

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