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Arquitetos mexicanos valorizam o olhar sensorial

Em entrevista, os mexicanos Gabriela Carrillo e Mauricio Rocha, do Taller de Arquitectura, contam porque valorizam o olhar sensorial.

Por Da redação
Atualizado em 20 dez 2016, 16h04 - Publicado em 28 ago 2014, 23h19
00 -Gabriela Carrillo e Mauricio Rocha

Foi na Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), a escola de arquitetura mais importante do país, que Gabriela Carrillo conheceu Mauricio Rocha. O então professor da faculdade, em 2002, convidou-a a integrar seu escritório. O estúdio cresceu, trabalhou duro e se tornou uma referência – sobretudo pelas construções públicas, como a instituição para cegos na periferia da capital do país batizada Centro de Invidentes y Débiles Visuales. “Os projetos do Taller de Arquitectura estão sempre atentos ao território e à cultura local. Justamente por isso, despertam interesse no mundo todo”, define Fernando Viégas, arquiteto e professor da Escola da Cidade, em São Paulo. Trechos de nossa conversa com Gabriela.

02-Centro de Invidentes y Débiles Visuales,

Como define a linguagem do Taller?

Mauricio começou com ações efêmeras, instalações. Particularmente, sou obcecada pela luz. Para nós, contemporâneo não é criar um edifício espetacular, e sim um lugar de vida que provoque o usuário com percursos, sombras, texturas. Tem mais a ver com experiência do que com estética. Também nos negamos a ser uma empresa. Nosso escritório configura um ambiente para discutir conceitos. Estamos envolvidos com a arquitetura que não só se constrói na forma mas também nas ideias.

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Como isso ocorre na prática?

Vou dar um exemplo: trabalhamos atualmente no projeto de um espaço cultural para uma comunidade pobre, no município de Cuernavaca. Observando o lugar, descobrimos que 25 bandas tocavam ali. Além disso, por causa da violência, as crianças não podiam ficar na rua. É vital conhecer esses hábitos. Então, concebemos um imóvel de uso múltiplo, favorável ao encontro e feito de materiais apropriados para regiões quentes. O resultado nasce da necessidade – de o arquiteto olhar e perguntar: “Que local é aquele e o que desejam as pessoas dali?”. O traçado é uma consequência dessas questões.

Conceber uma obra pública no México é complicado?

Elas ainda são mal pagas e enfrentam muitos obstáculos. Ao mesmo tempo, trata-se de um trabalho político, pois a obra pública é para as pessoas. Nos últimos 15 anos, o país vem mudando o jeito de olhar para o ambiente urbano, voltando-se mais para a escala do homem, que havia esquecido.

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Esse olhar humano foi o foco do Centro de Invidentes y Débiles Visuales?

Temos grande população de cegos, então foi uma oportunidade de o escritório indagar: “Como desenhar um espaço para quem não vê?”. Isso mudou nosso pensamento. Passamos a considerar o sensorial – todo projeto deveria ser para sentir. Tentamos criar uma composição espacial para a percepção, dos cheiros aos sons.

O que acha da arquitetura brasileira?

Na última vez em que estive em São Paulo, visitei a casa de Paulo Mendes da Rocha, no Butantã. Queremos fazer moradas tão cúmplices da cidade como ela. Também admiro a arquitetura viva do Sesc Pompeia. Fiz uma foto lá que representa isso. No mesmo local, havia uma senhora dormindo, crianças brincando e jovens conversando.

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