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Frei Otto: a última emoção do ganhador do Pritzker 2015

O arquiteto alemão Frei Otto faleceu no dia 9 de março. Um dia após sua morte, é anunciado que ele é o ganhador de um Pritzker póstumo. 

Por Por Vanessa D'Amaro
Atualizado em 19 jan 2017, 13h42 - Publicado em 11 mar 2015, 14h50
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O arquiteto alemão Frei Otto, nascido em Siegmar em 31 de maio de 1925, viveu muitas emoções ao longo dos seus quase 90 anos de vida. Sua biografia é cheia de histórias dignas de filmes de Hollywood — quiçá de um filme ganhador do Oscar. Tudo porque essa história começa com um jovem aspirante a arquiteto, que gostava de desenhar aviões, sendo obrigado a entrar no exército nazista em 1943 — pense bem: a Segunda Guerra continua sendo um dos temas preferidos da Academia. Frei Otto (“frei”, em alemão significa livre), que foi inicialmente um piloto de avião e, em seguida, um soldado, foi ironicamente capturado em 1945 e ficou enclausurado como prisioneiro de guerra perto de Chartres na França até o fim do conflito mundial. Lá, ele trabalhou quase como um arquiteto construindo estruturas com o mínimo de material possível. Em 1948, conseguiu voltar a Berlim e, finalmente, estudar arquitetura. Nos anos 50, teria visitado os EUA e conhecido o trabalho de Frank Lloyd Wright, Erich Mendelsohn, Eero Saarinen, Ludwig Mies van der Rohe, Richard Neutra, Charles e Ray Eames. Suas obras viriam a ser reconhecidas pela leveza e abertura à natureza em oposição a arquitetura pesada e cheia de colunas do Terceiro Reich. Em tempos de guerra fria, as obras de Frei ganharam liberdade das antigas tradições germânicas de construção. A mais conhecida de todas teria sido a cobertura do Estádio Olímpico de Munique, em 1972, feito com Günter Behnisch. Ainda que naquele ano pouco tenha se falado de arquitetura já que o evento ficou marcado pelo atentado terrorista que matou onze atletas israelenses em solo alemão. Entre as outras obras que deram o que falar estava o Pavilhão japonês na Exposição Mundial de Hannover, na Alemanha, no ano 2000, feito com Shigeru Ban; e também o pavilhão da Alemanhã Ocidental, em parceria com Rolf Gutbrod, na Exposição Mundial de Montreal em 1967.

É certo dizer que Frei Otto viveu um mundo de emoções e uma delas foi receber a notícia de seria o ganhador de um Pritzker, aos 89 anos, a beira do morte após a aposentadoria — ele já era professor emérito da Universidade de Stuttgart. No entanto, não se pode afirmar com certeza que esta foi a maior delas — já que sua vida foi marcada por reviravoltas e grandes acontecimentos. Definitivamente, foi a última. Sobre o prêmio, teria dito antes de morrer: “Eu nunca fiz nada para ganhar este prêmio. Ganhar prêmio não era o objetivo da minha vida. Eu tento [através da arquitetura] ajudar pessoas pobres, mas eu estou muito feliz”. A cerimônia de premiação seria no dia 15 de março, quando ele receberia o prêmio das mãos do renomado Frank Gehry no New World Center em Miami. A festa ainda acontecerá, mas será uma grande homenagem com depoimentos de muitos profissionais sobre Frei Otto. É uma pena que a cadeira fique vazia no salão e que as histórias de Frei Otto fiquem apenas na imaginação e nas palavras alheias. Se estivesse lá, diria que é uma honra ser o segundo alemão a ganhar o prêmio — o primeiro foi Gottfried Böhm, 1986. Provavelmente, celebraria que seu país alcançou o mesmo número de prêmios Pritzker do Brasil (1988, Oscar Niemeyer; 2006, Paulo Mendes da Rocha) e lamentaria não ter ficado por aqui tanto tempo quanto Niemeyer…

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