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Testamos 10 tipos de meditação

A nossa repórter experimentou diferentes linhas de meditação e conta aqui a sua experiência

Por Thays Prado
Atualizado em 21 dez 2016, 00h34 - Publicado em 10 Maio 2012, 20h32
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Budismo kadampa: meditação para uma vida moderna

 

Os frequentadores do centro são chamados de “meditadores urbanos”. “A intenção é transmitir os ensinamentos de Buda adaptados à confusa vida que as pessoas levam”, explica a professora residente, Gen Kelsang Pelsang.

O objetivo final é nos ensinar a fazer escolhas, transformando as mentes negativas em mentes positivas de amor, paz, compaixão e felicidade.

Depois que nos colocamos na postura ereta e relaxada, ela pediu que prestássemos atenção na respiração, para diminuir o fluxo dos pensamentos. Em seguida, Gen pediu para visualizarmos uma pessoa querida e sentir compaixão pelos seus sofrimentos. Assim, saímos do centro do nosso mundo.

A prática durou cerca de 15 minutos. A professora traduziu aquele sentimento: “O benefício da meditação não é apenas seu, as pessoas e o ambiente também serão afetados”.

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Meditação transcendental: rumo à fonte dos pensamentos

 

Originada na tradição védica, a meditação transcendental (MT) consiste em atingir níveis cada vez mais refinados da mente até chegar à fonte dos pensamentos.

A ferramenta utilizada é um mantra individual, recebido de um professor após uma cerimônia de iniciação. Um dia depois de assistir à palestra introdutória, voltei ao local com seis flores, duas frutas doces e um pedaço de pano branco para um ritual simples, com incensos e velas brancas.

O professor realiza a cerimônia de agradecimento aos mestres e oferta as flores e frutas a um retrato de Gurudev, o mestre indiano de Maharishi. Recebi meu mantra pessoal e assumi o compromisso de não contá-lo a ninguém.

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Precisei voltar nos três dias seguintes, para um período que eles chamam de verificação, em que compreendemos mais a fundo o que acontece com o organismo e a mente durante a meditação, tiramos dúvidas de ordem técnica e trocamos experiências com os outros iniciados.

Depois disso, o que conta para obter os resultados da prática é a força de vontade do aluno de fazer duas meditações diárias, de 20 minutos cada – uma pela manhã, ao acordar, e outra no período da tarde, idealmente de 5 a 8 horas após a primeira.

Talvez o maior desafio dos praticantes da MT seja manter a disciplina para fazer a meditação da tarde – para muitos, no meio do expediente de trabalho! Mas à medida que as pessoas à sua volta, inclusive seu chefe, constatarem os resultados positivos, ficará mais fácil dar aquela escapadinha para garantir o bem-estar geral.

Raja ioga: doce felicidade no coração

 

Tive a sorte de entrar em contato com a Brahma Kumaris na mesma semana em que a indiana residente em Nova Yorque, Sister Mohini Panjabi, coordenadora da organização nas Américas, estaria no Brasil.

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A técnica entende que não podemos começar a meditação silenciando a mente, que está em plena agitação – isso seria o mesmo que frear um carro em alta velocidade. O primeiro passo é desapegar-se de tudo o que está em volta: barulhos, objetos, situações.

Depois, é necessário escolher um pensamento positivo em que desejamos focar. Dessa forma, o fluxo da mente não é interrompido, apenas direcionado. Em seguida, o meditador experimenta o pensamento escolhido e vivencia aquele sentimento.

Com o tempo, a ideia é que sejamos preenchidos por uma quietude interior. Em vez de esvaziarmos a mente, a tornamos plena.

Na minha primeira experiência, levei um susto! Percebi que tudo ficou em silêncio em mim. Não imaginava que aquela prática breve me traria algum benefício, mas senti uma felicidade que durou o dia todo.

Kundalini ioga: energia vital que equilibra

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Antes da prática de meditação, os alunos realizam exercícios de aquecimento, posturas corporais estáticas e dinâmicas, chamadas de kriyas, e têm alguns minutos de relaxamento profundo. Assim, a meditação ganha força e é fácil sentir cada parte do organismo pulsar.

Para diminuir o fluxo de pensamentos e voltar a atenção para nosso estado interior, a proposta é entoar diversos mantras ou fazer exercícios de respiração, os pranayamas, além de certas posições específicas de mãos, os mudras.

De acordo com o professor Ajit Singh Khalsa, do Instituto 3HO, de São Paulo, em qualquer dos dois tipos de meditação, é indispensável manter a coluna ereta para que a kundalini percorra o seu caminho e seja distribuída por todos os nossos sete chacras.

Kundalini é uma energia vital, normalmente ilustrada em forma de serpente, que se desenrola, em espiral, da base da coluna até o topo da cabeça

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Os órgãos e glândulas são diretamente beneficiados com esse movimento energético e eliminam toxinas com muito mais facilidade. Também ganhamos um novo estado de consciência.

Vipassana: plena atenção aos detalhes

Segundo Buda, a meditação é composta por dois aspectos: samatha, que é a tranquilização e a concentração da mente, e vipassana, a habilidade de ver a realidade com clareza.

Arthur Shaker, fundador do centro budista de tradição theravada Casa de Dharma, de São Paulo, diz que a meditação é um processo de treinamento que nos ajuda a perceber a tendência da mente de reagir a tudo o que é externo. Com a prática, a mente começa a se purificar e se torna mais tranquila.

Como eu nunca tinha experimentado a vipassana, minha primeira dúvida foi em relação à postura. Quando me sugeriram que sentasse mais à frente na almofada e fizesse uma posição de meia lótus, imaginei que sentiria muita dor por meia hora de meditação. Engano meu. Durante a prática, percebi que minha circulação fluiu. Em compensação, senti dores consideráveis nas costas e ombros.

Apesar de ser a mais utilizada, a respiração não é o único foco na vipassana. Podemos nos concentrar em nossa postura, nas sensações do corpo, em elementos naturais como a água ou o fogo e mesmo em nossos estados mentais.

Naquele dia, ganhei uma qualidade que passei a levar para todas as outras técnicas que pratiquei: sempre que a mente começava a se perder nos pensamentos, eu, gentilmente, me voltava para a respiração, sem me criticar.

É que uma frase dita pelo aluno de Arthur, que conduzia a prática, fez todo o sentido naquele momento: “Qualquer julgamento sobre os pensamentos é só um pensamento a mais”.

Zazen: tudo é apenas um

 

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Não há convite maior para a meditação do que a serenidade do centro Zendo Brasil. Na hora exata, todos entram em silêncio na sala, fazem uma reverência com as mãos em prece ao altar e escolhem um lugar para se sentar – normalmente nas almofadas, chamadas de zafu.

Pernas cruzadas, coluna ereta, queixo encaixado, o corpo não se inclina para nenhum dos lados, orelhas alinhadas com os ombros, o nariz, o umbigo. Esvaziam-se os pulmões, eliminando qualquer tensão, e apoiam-se as mãos quatro dedos abaixo do umbigo.

A mão direita fica embaixo, com a palma voltada para cima, enquanto as costas dos dedos da mão esquerda repousam sobre os dedos da mão direita, sem avançar sobre a palma, com os dois polegares levemente encostados. A ponta da língua se mantém atrás dos dentes superiores da frente e os olhos ficam entreabertos, num ângulo de 45 graus com o chão.

Como não estava acostumada com aquela posição, comecei a sentir uma forte dor nas pernas. Mais tarde, o monge Yuho, que orienta a meditação para iniciantes, me explicou: “A maior dificuldade de praticar o zazen é nossa própria mente, que, a cada perturbação com que se depara, quer desistir e abandonar tudo. Apenas permaneça firme e tranquila, sentada em zazen”. Foi exatamente o que eu fiz: me entreguei à dor.

Naquele momento, tive uma espécie de insight que dizia: sem julgamentos, a dor não é boa e nem ruim, é apenas dor. Inacreditavelmente, por mais que ela aumentasse, já não me causava qualquer sofrimento, era apenas uma informação no meu corpo.

Dança circular sagrada: integração das diferenças

 

As Danças Circulares Sagradas é como um conjunto de danças folclóricas e foram apresentadas, pela primeira vez, na comunidade de Findhorn, na Escócia, em meados da década de 70, pelo coreógrafo alemão Bernhard Wosien. E foi na própria comunidade que a brasileira Renata Ramos as aprendeu em 1993, e trouxe depois para o Brasil o que se considera uma poderosa meditação ativa.

A dinâmica da dança circular é semelhante à de um relacionamento amoroso, em que um vai percebendo como o outro funciona até que possam se acertar. Mesmo tendo péssima coordenação motora, com um pouquinho de paciência, a roda vai girando, pessoas diferentes passam umas pelas outras, para uma palma, um giro ou um leve movimento de cabeça, e diferentes energias vão se encontrando.

É possível sentir, num breve olhar, que existe um universo inteiro dentro daquele outro ser que acaba de cruzar seu caminho. E, de tanto se encontrar com cada integrante do círculo, as pessoas acabam se encontrando também consigo mesmas e se dão conta de que, nós, seres humanos, temos mais coisas em comum do que costumamos perceber.

A cada movimento, camadas de nossas dimensões físicas, emocionais, mentais e espirituais vêm à tona e tudo o que precisamos fazer é dançar com elas, sem julgamentos.

Hare krishna: espiritualidade com alegria

 

Os seguidores da religião hindu vaishnavismo, mais conhecidos como hare krishnas, são famosos por sua alegria contagiante. No dia da minha visita, Chandramuka Swami, representante da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, no Rio de Janeiro, visitava o templo.

Entre os ensinamentos que transmitiu, Chandramuka enfatizou que não devemos ser apenas meditadores convencionais, que realizam a prática da meditação pela manhã e se esquecem de Krishna no restante do dia.

Os devotos iniciados têm o hábito de começar a meditar às 5h da manhã e passam até duas horas apenas cantando o Mahamantra (“Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare”), que entoa os vários nomes de Krishna. São 1 728 vezes em que o mantra é entoado, todas as manhãs. Para fixar o pensamento em Deus e não perder a conta, os fiéis utilizam a japa mala, uma espécie de rosário com 108 contas.

Qualquer coisa que se faça, seja o preparo de uma comida, uma ajuda a alguém ou mesmo o pronunciar de uma palavra, deve ser dedicado a Deus. “Não podemos chamar a meditação de prática, mas de um processo de conexão e despertar do conhecimento espiritual interior”, explica.

Terminada a palestra, Chandramuka Swami e vários devotos do templo se levantaram, começaram a tocar e cantar e a cerimônia se transformou em uma grande festa para a meditação. Com o pensamento focado em Krishna, os fiéis fizeram roda, pularam pela sala um atrás do outro e dançaram por mais de meia hora sem parar.

“O som é o elemento mais poderoso, porque ele chega até nós, desperta nosso eu espiritual e ainda adormece o ego material. Celebre com alegria”, disse Chandramuka.

Kriya ioga: devoção ao divino

 

A Self-Realization Fellowship, fundada por Paramahansa Yogananda, em 1920, na Califórnia, tem o propósito de provar, cientificamente, que é possível levar uma vida normal e ter, ao mesmo tempo, uma prática sagrada de meditação.

Às terças- feiras, a organização recebe a comunidade para o “serviço de inspiração”, que intercala momentos de meditação com cânticos, leituras de trechos do próprio Yogananda e mesmo da Bíblia e preces de cura.

Os meditadores se sentam confortavelmente em cadeiras, com a coluna ereta e a postura relaxada. De olhos fechados, o foco se mantém no ponto entre as sobrancelhas. Segundo a tradição, esse é o centro da consciência mais elevada.

Quanto mais vezes nos concentramos ali, mais a energia flui nessa direção, aumentando a intuição e nos conectando com quem realmente somos, com a nossa alma.

“Ao meditarmos, atingimos uma interiorização da mente. Com o tempo, chegamos à concentração total. Depois, entramos em meditação profunda e é esse estado que nos leva ao Samadhi, quando estamos conscientes de todos os átomos do corpo e, mais tarde, de todos os átomos do Universo”, explica Claudio Edinger, responsável pela sede da Self-Realization Fellowship, em São Paulo.

Meditação tântrica: para o benefício de todos os seres

 

No Centro Dharma da Paz, escolhi experimentar a meditação ngal-so de autocura tântrica, considerada a essência do budismo tântrico.

Em um salão que contém as figuras de vários budas e almofadas no chão, os iniciantes seguem os mesmos movimentos com as mãos feitos pela instrutora da meditação e que ativa um sistema de cinco chacras. “No budismo tântrico, são trabalhadas as energias sutis do corpo e da mente, que transformam as emoções aflitivas e despertam os estados positivos da mente”, explica Daniel Calmanowitz, diretor do Centro de Dharma da Paz e diretor-presidente da Fundação Lama Gangshen para a Cultura de Paz.

Cada emoção aflitiva e também as doenças físicas estão associadas a um chacra específico. Quando purificamos esses centros energéticos, durante a meditação, ainda estamos cuidando de seus diversos sintomas.A prática da meditação de autocura é composta pelo canto de mantras em sânscrito e tibetano, com tradução para o português, visualizações, respiração, posições de mãos e concentração.

Seu objetivo é acumular energia positiva, ou méritos, para a evolução no caminho espiritual. Assim, mesmo sabendo que ainda estamos muito longe de nos tornarmos seres iluminados, a proposta é se visualizar como um ser sagrado, como um Buda que tem a possibilidade de ajudar todos os seres.O objetivo final da prática é alcançar o potencial máximo de um ser humano. Mas o sentido maior de chegar a esse estado é ajudar todos os outros seres a também se libertarem do sofrimento e atingirem uma felicidade que vai muito além das palavras.

É por isso que as dedicações são sempre uma parte muito importante da meditação. Ao final, dedicamos todas as energias positivas de amor, compaixão, felicidade e paz para o benefício e a iluminação de todas as pessoas. Daniel explica que “quando encaminhamos a nossa energia para uma determinada direção, ela não se perde mais”.

 

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