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Livre-se das coisas velhas

Tudo que está sobrando e ocupando espaço pode atrapalhar sua vida, inclusive sentimentos ruins

Por Ivonete Lucírio
Atualizado em 20 dez 2016, 21h28 - Publicado em 24 Maio 2012, 13h56
coisas-velhas

Por que será que o ser humano tem tendência a acumular tantas coisas? “Os objetos são vistos como uma extensão de nossa personalidade”, comenta o antropólogo Arthur Shaker, professor de meditação budista da Casa de Dharma, em São Paulo. “Abrir mão deles seria como abrir mão de si mesma.” Nesse sentido, cada objeto assume uma significação simbólica. Aquela fruteira velha é importante porque foi dela que seus filhos pegaram o alimento que os fez crescer. Mas você continuará a ser a mãe amada mesmo se livrando da fruteira. E esse exemplo vale para o parceiro, os amigos, a família. Entendeu?

A sociedade de consumo tem um tantinho de culpa por essa mania de não nos livrarmos das coisas, mas a necessidade de guardá-las é muito anterior ao desejo de um sapato novo de uma grife qualquer. “Em seus sermões, Buda já falava sobre o apego como uma forte característica humana”, lembra Arthur.

É fácil enumerar diversos motivos para que alguém sinta dificuldade em se livrar de coisas e sentimentos. “Muitas vezes, guardamos algo de alguém que se foi como uma homenagem, até sermos capazes de realizar nossa despedida interna”, avalia Lana Harari, psicóloga de família de São Paulo. Há, ainda, o desejo de se precaver contra todas as eventualidades que o futuro possa trazer. Vai que ocorra uma enchente e você precise daquela galocha guardada há anos. “Nesse caso, é uma necessidade parecida com a que nos faz carregar uma mala pesada quando viajamos por temermos ficar desprotegidos”, compara Lana.

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Pode ser também insegurança com relação ao futuro, medo de se livrar e não conseguir aquilo novamente, a preguiça de tomar uma decisão (jogo fora ou não o relógio que parou de funcionar?). Seja qual for a explicação para juntarmos coisas e sentimentos, a conclusão é que isso é ruim. Ao abandonar coisas que não têm mais valor ou utilidade, sua essência aparecerá. Desfazer-se do peso morto ainda abre espaço para a introspecção. Ambientes atulhados causam uma superexcitação.

“A mente fica o tempo todo sendo arrastada pelo objeto e não descansa nunca”, descreve Arthur. Sem falar que viver tropeçando no que não serve e acaba atravancando o fluxo de energia. “Toda casa tem uma energia que chamamos de chi”, explica Franco Guizzetti, consultor de feng shui, de São Paulo. “O chi não circula em ambientes atulhados, cheios de objetos, saturados. A energia fica estagnada”, completa ele. Essa regra vale também para coisas que ficam paradas durante muito tempo. Se não quer se livrar de algo, torne-o útil. É preciso ler os livros comprados, consertar o que está quebrado, tirar o aparelho de jantar de porcelana do armário. Não há razão para manter enfurnados objetos que você julga importantes. É você que faz um momento ser especial para merecê-los.

É ótimo livrar-se de peças sem serventia, mas não é tão bom assim gerar lixo. E não estamos aqui chamando de lixo apenas aquilo que está estragado, mas objetos que, ainda em bom estado, são encostados facilmente em nome da modernidade. “Talvez a solução não seja apenas jogá-los fora, mas sequer adquiri-los”, diz Arthur.

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Por onde começar

O primeiro passo para liberar a área é, sem dúvida, estar disposta a isso. “Jogar coisas fora pede coragem e manda uma mensagem para o mundo: quero me renovar”, diz Lana. Tomada a decisão, vale uma dica prática de Gail Blanke em seu livro Jogue Fora 50 Coisas. Ela sugere pegar três sacos grandes de lixo e etiquetá-los: lixo (propriamente dito), doação e venda. Quando algo entrar em algum deles, não pode mais sair. O segredo é passear com eles pelos vários cômodos e fazer com que se encham com tudo o que é inútil.

Depois do excesso material, vem o mental. Pode ser um bom caminho começar com as lembranças incômodas, as mágoas não resolvidas. E, principalmente, as ideias preconcebidas que tem de si mesma. Gail sugere mais algumas sensações que podem ir para o saco: arrependimentos, a tendência de sempre pensar no pior, a convicção de que precisa fazer tudo sozinha.

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“Precisamos nos desapegar do velho, dos automatismos, dos atalhos mentais que usamos por preguiça e que nos impedem de ter um novo olhar sobre tudo”, complementa Lana. “A decisão de pôr mãos à obra e reorganizar o espaço interno e externo tem um efeito transformador. Abre espaço para uma nova disposição, um novo jeito de se posicionar na vida”, diz. É um movimento de renovação não apenas do que está visível, mas, mais importante, do que está por dentro – do seu armário ou de você mesma.

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