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Especialista explica como meditação pode ajudar viciados

Sarah Bowen, professora da Universidade de Washington, deu uma entrevista ao Casa.com.br e contou como a meditação pode ajudar viciados em drogas, álcool, compras e sexo

Por Marcel Verrumo
Atualizado em 20 dez 2016, 19h52 - Publicado em 29 Maio 2013, 18h32
Sarah Bowen - Divulgação

Na última semana, Sarah Bowen, professora da Universidade de Washington, desembarcou no Brasil para apresentar novos caminhos para ajudar viciados. No sábado, 25 de maio, ela ministrou o workshop “Uma introdução à prática de Mindfulness (Atenção Plena) na prevenção de recaídas do abuso de drogas”, no qual apresentou exercícios de meditação que poderiam ser usados no combate a vícios. Mas como a meditação pode ajudar um viciado em drogas, em álcool ou em compras? A resposta foi simples: “A Mindfulness ajuda o indivíduo a ver o que está acontecendo ao seu redor. É como se ele limpasse seus óculos para ver melhor o mundo. Quem o pratica, assimila melhor as experiências ao seu redor e amplia sua consciência para dizer “não” diante de uma droga.” Confira a entrevista completa.

Sarah, o que é a Mindfulness?

Mindfulness são exercícios de meditação que fazem com que foquemos ao máximo nossa atenção no que está acontecendo no presente. Nosso objetivo ao praticar a Mindfulness é aprender a ver claramente o que está acontecendo ao nosso redor. É como se limpássemos nossos óculos para ver melhor o mundo. Pode parecer estranho que tenhamos que praticar isso, mas estamos tão condicionados a reagir automaticamente ao que experimentamos, que perdemos a capacidade de ver apenas a essência crua do que está acontecendo. Temos também uma tendência a viver no passado, imaginar o futuro, ou tornar-se uma versão de fantasia de presente – querendo que as coisas fossem como antes, em oposição ao que elas realmente são. Por um lado, isso é positivo, permitindo-nos imaginar coisas e planejar o futuro, mas nós também perdemos um monte de riqueza e sabedoria por não nos determos no que nos é apresentado. Assim, na prática mindfulness, aprendemos a observar a nossa própria experiência em um determinado momento, as sensações físicas, os pensamentos, as emoções. Nós aprendemos a reconhecê-los.

Como a Mindfulness pode ajudar viciados em drogas?

Muitas vezes, quando as pessoas se tornam viciadas em álcool ou drogas, elas estão usando a substância não tanto para o prazer, mas para escapar de uma emoção, de uma sensação ou de outra experiência que lhe é desagradável. As drogas chegam para “consertar” essa experiência. E as pessoas só querem se sentir melhor. O problema é, naturalmente, que, em longo prazo, essas substâncias não aliviam o sofrimento.

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E como o Mindfulness os ajuda?

Os viciados aprendem a prestar atenção aos padrões cognitivos e comportamentais que levam à recaída. Também aprendem a lidar com as experiências difíceis, como a depressão, a raiva e a ansiedade, sem reagir imediatamente. Um dos principais fatores precipitantes de recaída é emoção. Através da prática da Mindfulness, as pessoas aprendem a reconhecer essas emoções e impulsos e a saber como lidar com ela. Por fim, quem se volta repetidamente para o álcool ou as drogas para satisfazer as suas necessidades pode aprender a reconhecer do que é que está realmente precisando. As pessoas não precisam de droga real, mas de uma experiência que desejam alcançar e pensam que apenas as drogas podam ajudá-los a fazer isso.

E a atenção plena também pode ajudar pessoas com outras dependências, como viciados em sexo, comida, compras?

Nos grupos em que trabalhamos, temos uma mistura de pessoas com todos os tipos de vício, como lutas com jogos de azar ou comer. Isso é possível porque os padrões de pensamentos, comportamentos e emoções que acompanham uma recaída são muito semelhantes em todas essas manifestações de dependência.

Sarah, você pode me dar um exemplo de pessoa que foi curada com Mindfulness?

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 “Curado” é uma palavra complicada. Viver com tendências viciantes é um processo contínuo e, portanto, a atenção plena também deve ser uma prática contínua. Me lembro de uma alcoólatra que, após poucas semanas no curso de Mindfulness e cerca de um mês sóbria, foi convidada para uma festa de trabalho para comemorar um gol que a empresa tinha marcado. Ela descreveu os muitos pensamentos e emoções que teve ao receber o convite, como o medo de ter uma recaída e a consciência de que essa festa poderia ser apenas o começo de uma longa noite de bebedeira que a levaria, novamente, ao vício. Ela ficou ansiosa, com medo. Então, ela se lembrou de um exercício que tinha feito na semana anterior no nosso grupo. Nele, os pacientes foram ensinados a perceber quando uma situação incômoda ocorre e aprenderam como observar a experiência para além de um momento. Esse exercício faria com que eles expandissem a consciência do que estava se passando à sua volta. A paciente, então, fez um breve exercício da Mindfulness e disse que o senso de urgência e inevitabilidade passou “surpreendentemente rápido” e ela percebeu que poderia não recorrer ao álcool. Ela, então, recusou educadamente o convite e foi para casa. Após essa experiência, ela disse ter se tornado muito mais confiante em sua capacidade de fazer escolhas diferentes e descreveu se sentir “livre”.

O Mindfulness também é indicada para a família dos viciados?

O curso foi originalmente projetado para pessoas que sofrem de dependência química. No entanto, as práticas mindfulness podem ser de grande benefício para todos.

O que você quer dizer para as pessoas viciadas?

O mais importante: não percam a esperança. Não acredito que há algo de “errado” com alguém que tem um vício. Não sintam vergonha, porque a vergonha muitas vezes perpetua o ciclo de dependência. Não tenha vergonha, peça ajuda. Se você tem um interesse em meditar, experimente! É uma prática que se destina, ao alcance (e que pode ajudar) de todos.

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