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Duas receitas de banho energizante e história desse ritual

Um bom banho faz maravilhas por você. Aqui tem a receita de dois banhos energizantes

Por Texto Ivonete Lucirio | Direção de arte Camilla Frisoni Sola | Design Luciana Giammarino | Fotos Célia Mari Weiss | Reportagem fotográfica Carla Zullo
Atualizado em 20 dez 2016, 19h38 - Publicado em 4 jul 2012, 17h37

Sonhar que você está imersa na água diz muito a seu respeito. Os psicólogos acreditam que esse tipo de devaneio denota estar, até a última gota, emocionalmente envolvida com uma situação. A água representa os sentimentos e mergulhar nela mostra que você está em contato com o que há de mais emotivo dentro de si. Um banho poderia propiciar igual envolvimento. “Banhar-se remete ao contato corporal com o líquido no qual estivemos confortavelmente envolvidas no ventre materno. Promove uma sensação inconsciente deambiente uterino”, diz a neuropsicóloga Ana Paula Cuocolo Macchia, do ABC Aprendizagem, Centro Pedagógico Interdisciplinar, em Santo André, na Grande São Paulo. Trata-se, portanto, da melhor hora do dia para submergir no interior de nós mesmas. “É um momento de grande estimulação sensorial, em que o tato e o olfato estão ativados”, completa Ana Paula.

A história do banho

 

Desde que a humanidade começou a se reconhecer como tal, ou até antes disso, o banho passou a integrar nossa rotina. Os primeiros registros desse hábito vêm do Egito, por volta de 3000 a.C., quando banhar-se – e eles o faziam pelo menos três vezes ao dia – era uma homenagem aos deuses. Mais do que a bênção divina, isso resultou na longevidade desse povo. Acredita-se que os egípcios conseguiram sobreviver a muitas das pragas da Antiguidade por serem limpos. Gregos e romanos, além da higiene e da adoração aos deuses, também tinham especial apreço pela água por causa de esportes como a natação.

 

Mas houve também um tempo em que o banho caiu em desgraça. Lá pelo ano 380, quando o cristianismo tornou- se a crença oficial em Roma, a higiene corporal foi banida ao mesmo tempo em que se pregava a castidade. Como o corpo era visto como templo do pecado, lavá-lo – ainda mais se isso proporcionasse algum prazer – tornou- se pecado. Passar uma aguinha nas mãos e no rosto estava bom demais. No resto do corpo, um paninho umedecido e pronto. “De fato, o banho proporciona uma estimulação das zonas erógenas, tanto pelo contato com a água quanto pelo toque corporal”, diz Ana Paula Cuocolo Macchia, interpretando a visão pecaminosa do ato. Foram cinco séculos de farta sujeira. Lavar-se por inteiro voltou a ser uma prática, tímida e lentamente, a partir do contato dos colonizadores europeus com os índios, na época dos descobrimentos. Os nativos lavavam-se várias vezes por dia nos rios, despreocupados de divindades ou cura de doenças, motivados especialmente pelos prazeres que a água proporciona.

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Enquanto os cristãos repudiavam a higiene, povos orientais nunca abandonaram o banho. Na Turquia, por exemplo, as fontes termais estimulavam o hábito também por seus efeitos terapêuticos. Foi no Oriente que surgiu o ofurô, que em sua origem era mais profundo do que largo. A ideia é acomodar-se com as pernas flexionadas, numa postura próxima à posição fetal. A temperatura da água deve ser escolhida em fun��ão dos benefícios visados. De 10 a 29 °C, a água é um estimulante, aumenta o metabolismo e tonifica a pele. De 29 a 36 °C, ajuda a relaxar e alivia o cansaço. De 37 a 40 °C, o relaxamento é mais intenso e melhora dores musculares, principalmente depois de muito esforço. Banhos mais quentes devem ser mais breves – no máximo de 15 minutos – para não baixar a pressão arterial.

Banho como ritual de purificação

 

Independentemente do veto cristão naqueles tempos, o banho em várias culturas foi e continua sendo visto como um ritual de purificação, uma forma de livrar-se não apenas da sujeira do corpo como também da sujeira da alma. É assim no candomblé. “Quando a pessoa chega a um terreiro, a primeira coisa que faz é tomar banho, antes de iniciar qualquer rito ou cumprimentar os outros”, conta o sociólogo Reginaldo Prandi, especializado em cultura afro-brasileira, da Universidade de São Paulo (USP). O banho pode ser de água pura ou com amassi, um preparado de água com folhas. Cada orixá tem uma folha diferente. “Dependendo do estado emocional da pessoa, o sacerdote mistura diferentes folhas. Por exemplo, manjericão é de Oxalá e acalma. Alfazema é de Iemanjá e também tem efeito calmante”, conta o sociólogo.

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Além de homenagear os orixás, o banho tem uma forte função curativa nas religiões afro-brasileiras e é usado para tratar doenças e transtornos psicológicos. O pai de santo indica o banho para tratar cada problema. “O mais popular é o de sal grosso”, lembra Reginaldo. “Mas há outros com arruda, guiné e várias ervas.” Tais rituais podem acontecer no terreiro, jogando um balde com a mistura na cabeça. Mas também se pode levar a mistura para casa.

 

No cristianismo, a simbologia do banho está presente no batismo, sacramento que torna a pessoa membro da Igreja. Segundo a Bíblia, trata-se de um banho de água acompanhado por palavras de vida, que limpa os homens de toda mancha de culpa, livrando a pessoa do pecado de Adão e de seus próprios. No início do cristianismo, o batismo era ministrado aos adultos, mergulhados pelo sacerdote nas águas de rios, simbolizando a purificação da alma. Hoje, o mais comum é o batismo de crianças, vertendo-se um pouco de água na cabeça sobre a pia batismal.

 

Lavar-se também é importante no judaísmo, embora não exista batismo. “O banho está ligado a ritos de passagem do estado de impureza para a pureza espiritual por meio da água”, explica a antropóloga Tânia Kauffman, especializada em cultura judaica, da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe). Banhar as mãos de forma ritual todas as manhãs, derramando a água de uma vasilha em uma mão de cada vez, é prática usual. “O intuito é remover as impurezas dos sonhos”, explica a antropóloga. Repete-se a lavagem antes de orar, de comer pão, antes de proferir uma bênção, de sair do cemitério ou de ter contato com um morto. Mas a forma mais importante de purificação é a imersão no chamado micvê, tanque abastecido de água corrente proveniente de um rio, que existe nas sinagogas. Após a primeira menstruação ou o parto, as mulheres fazem a ablução, o mergulho total no micvê. “O sangramento menstrual é considerado o castigo de Eva”, conta Tânia.

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A maioria das religiões encara o banho como uma cerimônia de limpeza, purificação e renascimento, segundo Prandi. Mas, independentemente da fé, a água tem poderes restauradores e ninguém deve se furtar a esse prazer. “É rica em energia porque se movimenta. Em contato com o nosso corpo, transmite a força desse movimento”, diz Franco Guizzetti. Pela manhã, ajuda a começar o dia com vitalidade. À noite, joga ralo abaixo as sensações ruins, que passam a não mais pertencer à pessoa. É uma imersão no prazer.

Receita de dois banhos energizantes

 

Renata Ashcar, autora do livro Banho: História e Rituais, dá a receita de dois banhos que harmonizam as energias.

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Banho relaxante

A lavanda tem propriedades sedativas e seu banho é calmante, perfeito para reduzir o estresse no final do dia. O perfume sutil ajuda a induzir o sono.

• 1 xícara (chá) de botões de lavanda ou 6 gotas do óleo essencial

• 4 xícaras de água fervida

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Ferva a água, retire a chaleira do fogo e acrescente os botões ou o óleo essencial. Deixe em infusão por pelo menos 20 minutos. acrescente a infusão à água da banheira e deixe-se envolver pela sensação reconfortante e perfumada lavanda.

 

Banho estimulante

Nesta infusão de ervas, as propriedades estimulantes do manjericão, do alecrim e da sálvia ajudam a aliviar músculos doloridos. o aroma ativo da manjerona acalma a mente.

• 8 gotas de óleo essencial de manjerona

• 2 colheres (sopa) de óleo carreador

• 1 xícara (chá) de folhas frescas de manjericão

• 1 xícara (chá) de folhas frescas de alecrim

• 1 xícara (chá) de folhas frescas de sálvia

• 4 xícaras de água fervente

 

Misture o óleo essencial de manjerona com o óleo carreador. pique delicadamente as ervas para liberar os aromas, adicione-as à água fervente e deixe descansar por 20 minutos. encha a banheira, misture a infusão e o óleo à água e relaxe por 30 minutos.

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